A evitação e bloqueio emocional abafam o sentir no corpo, alertando-nos de várias maneiras que a resistência é contrária ao desenvolvimento humano, provocando sintomas diversos que levam a muito incômodo, dor e sofrimento. Porém, as vezes, mesmo com a consciência e desejo de transformar essa relação, é difÃcil saber por onde começar, logo, diante disso, além de indicar a busca por terapia com um profissional de psicologia responsável, indico aqui uma ótima ferramenta para levar na sua prática cotidiana.
Já ouviu falar na escrita terapêutica? O ato de escrever para si, sobre si e consigo mesmo, imprimindo os sentimentos, dificuldades e problemas de forma livre. Não é necessário se preocupar com a estrutura do texto, o desenvolvimento dele se molda pela sua própria criatividade: cartas, diálogos, rimas, histórias, etc. O que se encaixar com o seu sentimento no momento é a melhor escolha, então se conecte com o sentimento e os pensamentos que surgem a partir dele, assim será possÃvel começar sua escrita terapêutica.
É um processo que gera algo novo, tanto no que se escreve, quanto no que se internaliza. Uma verdadeira arte, onde se permite contar, criar, imaginar e reestruturar sentido, por isso, toda escrita terapêutica é um material riquÃssimo para ser adicionado ao processo de terapia, isso porque ela é um registro dos desejos e necessidades de expressão que se fazem importantes temas a serem explorados em um espaço de confiança. Na produção artÃstica as emoções e os sentimentos servem como bússolas que apontam em um sentido.
É de fundamental importância observar os pensamentos que nascem das emoções sentidas, refletindo, anotando e transformando até encontrar a direção ideal que transpareça seu rumo mental atual. Todo conteúdo produzido poderá servir de análise, e ao escrever é possÃvel absorver, aprender, ler, lembrar, depois esquecer, reler e recriar, por isso, recomendo que guarde com cuidado, pois cada texto continuará sendo um recurso importante. A prática pode ser um grande diferencial na reconstrução da relação com os próprios sentimentos, dos mais agradáveis aos mais desconfortáveis.
É possÃvel se aprofundar em qualquer assunto, mas, em homenagem ao nome da clÃnica "Formas de Amar", trago um exemplo de escrita terapêutica no tema amor, desenvolvido a partir de reflexões trabalhadas em terapia:
Bê-a-bá
Precisei aprender
Assim como os bebês
Nos primeiros passos bambos
Que desenvolvem com bastante apoio
Envolvida entre coragem e medo
Segurei suas mãos
Mesmo sem saber o que esperar delas
Se iriam me amparar, bater ou abandonar
As vezes a gente precisa pagar pra ver
Mas dessa vez eu te via
E não devia nada
Já segurei muitas mãos ao longo da vida
A sua tinha o mesmo tamanho da minha
O que eu precisava e não sabia
Era tudo o que eu queria
Esse amor me faz acreditar
Que se tenho essa amizade
Já sei o que é o amar
Então podemos andar
Que mesmo se tropeçar
Temos a quem abraçar
Podemos chorar
Já sabemos o que é amor
Me sinto amada
E dessa forma tenho coragem
De rejeitar o que disso distancia
Coragem de dizer que te amo.
-Eu, Lara.
Espero que a inspiração tenha te alcançado, seja como for, para se inspirar busque textos que te afetem. Desejo boa sorte nas suas produções escritas, e que seja possÃvel colocar em prática como um exercÃcio de autoconhecimento e autodesenvolvimento.
Referências
DAMIAO JUNIOR, Maddi. Fundamentos do método de Nise da Silveira: clÃnica, sociedade e criatividade. Junguiana, São Paulo , v. 39, n. 1, p. 91-100, jun. 2021 . DisponÃvel em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-08252021000100007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 28 ago. 2023.
OKUMURA, Iris M.; SERBENA, Carlos Augusto; DORO, Maribel P.. Adoecimento psicossomático na abordagem analÃtica: uma revisão integrativa da literatura. Psicol. teor. prat., São Paulo , v. 22, n. 2, p. 487-515, ago. 2020 . DisponÃvel em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872020000200013&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 28 ago. 2023.